A vida prega-nos partidas. Às vezes temos dificuldades em entender o porquê de certas provações, a razão de ser de certos acontecimentos. É preciso passar algum tempo para que, à distância, tenhamos a capacidade de avaliar que nada acontece por acaso.
Na altura em que se deram os eventos que descrevi anteriormente, a minha vida estava impregnada em problemas de todo o tipo. Familiares, pessoais, financeiros e profissionais.
O meu escape era escrever. A minha terapia era perder-me em pesquisas que em nada tinham a ver com a minha profissão ou com o momento que estava a passar.
Quem me dera ser possível colocar aqui todas as provações porque passei… Infelizmente, por envolverem terceiros não o posso fazer. Terá de ficar na vossa imaginação. Mas aqueles que me acompanham, os meus Bravos Companheiros, sabem do que falo. E até hoje não sei como cheguei aqui sã. Não sei como atravessei esse deserto. Algo deve ter ficado para trás, mais do que sangue, suor e lágrimas certamente pois esses elementos são banais na minha vida. Se ficou, que me perdoem. É quando se sobrevive ao inferno que se toma consciência da pequenez do ser.
As coisas tornam-se reais no seu devido tempo.
Eu sempre gostei de ler. Não sabia no entanto, o quão libertador era escrever. Não imaginava que era sequer possível criar personagens, insuflá-las com vida.
Tenho de dizer a verdade: foi fácil. Demasiado fácil. Porque elas queriam falar.
Eu sentia-as. Senti todo o sofrimento de Erithia enquanto as pessoas que amava desapareciam da sua vida. Senti a sua paixão no meio da dor e das trevas que a tomavam. Senti porque eram também o meu sofrimento e a minha paixão.
Senti a frustração de Iccius por ser obrigado a lutar numa guerra que não considerava sua, mas à qual simplesmente não podia virar costas. Senti o seu amor e a sua abnegação.
Senti a ténue esperança de Púnico quando acreditou que ia conseguir trazer paz para os seus e sorrimos juntos.
Eu estou em todas as personagens porque respirei com elas. Mas elas são também o reflexo das pessoas que cruzaram o meu caminho. Sim. Tenho um amigo que é tal e qual Mantaus. Tenho uma Soela (graças aos Deuses!) na minha vida e mulheres extraordinárias cujo sangue corre na guelra.
E é agora, quase dez anos depois que eu entendo porque tive de calcar tantas pedras, porque tive de viver tantas amarguras e desilusões.
Porque como poderia eu escrever sobre traição, sobre amor, sobre sacrifício sem os ter sentido marcados na minha própria carne?
Esta é uma história claro, mas todas as emoções são reais. Todos os sentimentos são verdadeiros.
Para sentires, tens de sangrar.