Acordei com uma neura descomunal…
Duas noites mal dormidas… O prazo de entrega do trabalho a acabar…
Tirei uma semana de licença para terminar o relatório e já gastei quase três dias…
Toca a abrir o computador outra vez… Uma folha em branco, um cursor a piscar e nada.
No canto inferior esquerdo aparece o ícone do Messenger a piscar: “Nuno está on-line”.
O meu amigo Nuno Mata, grande entusiasta de fantasia, amigo de infância e com um certo… digamos… espírito druídico… estava a dar-me os bons dias. “Então Sónia, como vai isso?”
Foi tudo o que precisei para descarregar o meu desespero…
“Não consigo concentrar-me Nuno! Tenho tido uns sonhos muito intensos e esquisitos!…”
“Então? Conta…” Parece que o estou a ver…
Contei-lhe. Contei-lhe tudo. A história da febre, das imagens… Para mim nada fazia sentido…
“Escreve!” disse-me ele. “Escreve o que sonhas para tirares isso da cabeça!”
Escreve? Escreve como?
“Esquece o que estás a fazer e escreve tudo, tal e qual como me estás a contar…”
E escrevi.
Comecei por fazer uma descrição do que via e do que sentia. Abri um outro documento, uma tabela, para tentar organizar o pensamento. Nada daquilo fazia sentido… comboios, tribos celtiberas, romanos… Mas despejei tudo numa folha pensando que a teoria do meu amigo poderia resultar.
À hora de almoço já tinha conseguido começar o relatório. Sucesso! Estava de volta! Que estupidez a minha deixar-me absorver por sonhos parvos!
Só que… bem… a noite chegou. Essa sedutora e mágica senhora que exulta tudo o que de mais bizarro habita em nós.
E as imagens chegaram.
Sonhei que descia uma escadaria, num solar feito de pedra. Sentia até o piso debaixo dos pés, a pedra fria do corrimão sob a minha mão. Saí para a rua envolvida num xaile. Olhei para trás. Uma casa apalaçada, de pedra clara. Fachada imponente. Decorei-lhe os traços.
Recomeçou a correria… Estava aterrorizada. Na floresta outra vez? Encostei-me a uma árvore coberta de musgo… Senti o seu respirar… Estava em pânico! O meu perseguidor estava ali!
Acordei.
Mas o que se passava comigo!?
Estaria a enlouquecer?
Saí do quarto, eram 4:00h… lembro-me disso…
Liguei o computador e comecei freneticamente à procura não sei bem de quê… aquela casa, aquelas imagens… sou uma investigadora… Espírito critico! Vamos lá rapariga!
Despejei na barra de pesquisa tudo o que me lembrei… comboios, solar, romanos…
E de repente… Sem que o pudesse ou conseguisse controlar… A casa com que sonhei… Essa casa onde descia as escadas, materializou-se… estava ali à minha frente.
Existia.
Era real.
Atingiu-me como uma pedra e a minha vida deu uma volta de 180 graus.