Nesta fase eu já questionava tudo.
Depois da Sandra tirar umas quantas fotografias à locomotiva (podem vê-las na galeria) continuámos até ao Solar da Torre. Descobrimos que se tinha tornado na Fundação Joaquim dos Santos, servindo de museu.
Claro que pedimos para visitar! Obvio! Que mais podia acontecer?
Mais bizarro do que tudo aquilo que já vos contei? Impossível, certo?
Só que não…
Ao entrar no solar, a escadaria. Alinhada à direita, de pedra. Sim. Era exatamente aquela. Senti o frio na palma da mão e lembrei-me do meu sonho, das sensações que a memória guardava.
Numa das fotografias que a Sandra tirou, eu estou sentada num banco, no corredor à espera que o senhor comendador nos receba para nos contar a história do Solar. Nesse momento quando ela pousou a máquina perguntei-lhe com toda a honestidade que só duas grandes amigas podem ter uma com a outra:
“Isto está mesmo a acontecer… Desta forma…”
Ao que ela respondeu naquela forma prática e despachada que a caracteriza:
“Deixa-te ir. Alinha-te com o universo.”
O comendador foi um amor. Recebeu-nos e mostrou-nos tudo. Deixou-nos andar por todo o lado.
A minha cabeça estava a mil.
A vista da janela, os quartos, a cozinha… Todos aqueles espaços já existiam na minha cabeça, conhecia-os porque tinha perdido horas do meu sono a percorrer aqueles corredores.
Não havia tempo para mais. O casamento da Mafalda!
Os três dias seguintes foram de festa.
Mas as três noites foram de desespero… com todas as personagens a falar ao mesmo tempo e cada uma delas a querer contar a sua história.
Só queria chegar perto de um teclado e vomitar esta história.
Era tudo o que eu queria. Sentia uma urgência inexplicável de escrever.
Como se a minha vida dependesse disso.
Rendi-me e decidi.
Vou escrever um livro.
Não porque almejava ser escritora.
Não porque estava sem nada para fazer (LOL).
Simplesmente TINHA de o fazer, ou corria o risco de ficar doida.